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Já falecido Dr. Jackson Lago |
Esquecer
o ruim da história é se entregar ao risco de revivê-la. Em cada época,
de alguma maneira, em algum lugar, a maldade faz das suas.
Depois vem o tempo com o seu enorme mata – borrão querendo apagar tudo, teimando em induzir a memória coletiva ao esquecimento.
Se
você se entrega, se conforma aceitando, o ruim da história se renova e,
quando menos se espera, lá vem ela, a maldade, de novo. Sempre por mãos
de gente.
Foi
em 17 de abril de 2009. O tempo, algumas vezes, parece passar rápido.
Parece que foi ontem, mas do ontem porque é passado muitos nem se
interessam em lembrar.
Eu
me lembro da primeira semana após a posse, quando começaram a correr,
os primeiros buchichos de que o Jackson seria tirado do Governo. Mas
como?
Li a petição da maldade em favor dos derrotados e os absurdos eram tantos que achei graça. Mas não subestimei.
Não
demorou e o caso já estava no TSE em escancarada supressão de
instancia. Dois Ministros, um após o outro, foram relatores, mas nenhum
deles em qualquer instante realizou pessoalmente, no local dos fatos, a
instrução do processo. Quase tudo transcorreu por delegação.
Manda
a lei que o Juiz decide com base na sua convicção e nas provas dos
autos. Essa convicção ele a constrói ao longo do processo, durante toda a
instrução, dirigindo o contraditório, ouvindo as testemunhas, mediando a
querela.
Afinal,
que convicção pode ter um Juiz para decidir e, pior, em colegiado levar
seus pares a segui-lo, se não interrogou a todos pessoalmente, se não
olhou no olho de ninguém?
A
exceção que admite a delegação a Juiz de grau inferior para colher, por
exemplo, um depoimento de testemunha distante, e só isso, virou regra
no TSE.
As
provas entre aspas, muitas delas obtidas de forma ilegal ou imoral,
animaram o Relator. Quando, quase no final, relatei a um Ministro o que
estava a caminho, a reação foi indignada.
A
coisa foi seguindo e com o tempo, como no Ensaio Sobre a Cegueira, de
Saramago, ninguém parecia mais ver nada e por mais argumentos que a
defesa do Jackson apresentasse mostrando as equivocadas interpretações
da Constituição e das Leis que se cometiam, tudo era nada para as mentes
encegueiradas.
Ainda
assim o resultado saiu num voto de desempate. Muito triste para uma
Corte de Justiça. A maldade se completou quando, mais uma vez à revelia
da Constituição e das Leis, não só cassaram o eleito por maioria
absoluta de votos como, dispensando a publicação do Acórdão para que não
houvesse nem tempo de recurso ao STF, mandaram diplomar, de pronto,
exatamente a derrotada nas urnas no primeiro e no segundo turno.
A
História é filha do Tempo, o senhor da razão. Com o passar do tempo a
História vai aumentando ou diminuindo a estatura moral e cívica das
personagens.
Daquele
espetáculo naquela noite no TSE, a História vem dando a cada um a sua
verdadeira dimensão. Uns cresceram no respeito. Outros porque não sendo
nem do tamanho da sua altura, se tornam cada vez mais figuras diminutas
porque são apenas do tamanho do que veem.
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